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European Citizen´s Panel – As Recomendações

Desperdício Alimentar
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Enquanto CEO da Mind The Trash e influenciadora na área da sustentabilidade, fui convidada a estar presente no 3º e último encontro sobre Desperdício Alimentar, a decorrer nas instalações da Comissão Europeia em Bruxelas.

Foram selecionadas 127 pessoas dos 27 Estados-Membros, sendo que de Portugal foram selecionadas 5 aleatoriamente para debater sobre o tema: O Rui Silva, a Carolina Cruz, o Telmo Mendes, a Lurdes Pinto e o Raul Caetano, acompanhado pela sua mulher.

Da esquerda para a direita: Lurdes Pinto, Carolina Cruz, Telmo Mendes, Catarina Matos, Rui Silva e Raul Caetano acompanhado pela sua mulher.

Na 1ª e 2ª sessão, que decorreram em Dezembro e Janeiro, os cidadãos selecionados ouviram vários especialistas sobre o tema e organizaram-se em grupos de 10 e 11 pessoas para começaram a debater recomendações. Nesta última sessão, no fim de semana de 11 e 12 de Fevereiro, foram enumeradas no total 23 recomendações que a Comissão Europeia deverá ter em consideração aquando da definição das iniciativas legislativas.

As recomendações foram divididas em 3 blocos distintos:

Bloco 1: Cooperação na cadeia de valor alimentar: do prado para o prato.

Bloco 2: Iniciativas empresariais do setor alimentar;

Bloco 3: Apoiar a mudança comportamental do consumidor

Muitas das recomendações tocam em pontos comuns, tais como:

  • Criação de incentivos a produtores e retalhistas que atuam positivamente na redução do desperdício;
  • Criação de plataformas online para melhor comunicação entre os retalhistas e as organizações que redistribuem os alimentos, e na consciencialização, reeducação do consumidor para consumir produtos locais e sazonais;
  • Criação de métodos de controle ao longo de toda a cadeia alimentar;
  • Consumir local;
  • Criação de campanhas de sensibilização nas escolas e supermercados.

Das 23 recomendações apresentadas, destacamos abaixo as 3 com mais votos de concordância por parte dos cidadãos convidados:

  • Recomendação 1: Incentivar o consumo local, sempre que possível, por parte dos retalhistas e a implementação de incentivos e apoios aos pequenos produtores.
  • Recomendação 13: Garantir uma sucessão de passos a ter em consideração antes de as empresas desperdiçarem os alimentos.
  • Recomendação 18: Inclui temas sobre alimentação sustentável nos programas curriculares das escolas primárias e secundárias,

A recomendação menos votada foi a nº12, todavia (a meu ver) não menos importante, sobre a existência de um sistema obrigatório de informação durante toda a cadeia de valor, para maior transparência, e com aplicação de sanções no caso da violação das normas e recompensas, em caso de bom desempenho por parte das empresas. Achei interessante esta ser das recomendações menos votadas por todos os países pois, para a realidade Portuguesa, infelizmente, acho que faz muito sentido.

Segue no final do artigo, a lista com as 23 recomendações definidas, apresentadas de forma muito sucinta e esquematizada (para quem tiver paciência para ler). Alerto que muitas recomendações tocam em pontos comuns, crítica que foi dada no final do evento por alguns cidadãos que não tinham conhecimento do que outros grupos estavam a definir.

Outro aspeto importante a mencionar e referido por membros da Comissão Europeia também no final do evento é que, algumas destas recomendações podem não ser economicamente viáveis ou da responsabilidade da Comissão Europeia mas sim dos governos, por exemplo. Assim, algumas destas recomendações poderão não ser consideradas aquando da definição da legislação.

Evento sobre Desperdício Alimentar Com Desperdício

Enquanto pessoa que luta pela sustentabilidade no dia a dia, admito já ter o olho treinado para determinadas coisas e aqui, detetei alguns erros que, a meu ver, não fazem sentido num evento sobre Desperdício Alimentar. Estes eventos deveriam servir de exemplo aos cidadãos e espero que estas críticas sejam vistas como críticas construtivas para futuros encontros. Para mim, o Desperdício Alimentar faz parte de um problema maior: o desperdício no geral.

O almoço no final do evento, por exemplo, foi entregue em caixas de cartão individuais a cada participante ao invés de haver comida disposta tipo “buffet” para que cada um tirasse a quantidade de comida que efetivamente consegue comer ou que gosta. As sobras, poderiam ser depois doadas a uma associação.

Nas caixas, estavam 5 sandes e 3 sobremesas pequenas. Não tínhamos opção de escolha. Para mim, 5 sandes (mesmo que pequenas) é muita comida e, dentro das 5 opções, também não gostava do conteúdo de 2 delas. Gulosa como sou, gostei das 3 mini sobremesas mas houve quem não gostasse e as deixasse nas caixas. Além disso, foram dispostas inúmeras garrafas de água pequenas que, para mim, também não faz sentido.

As fotografias que tirei já foram no final do almoço pois era difícil conseguir espaço para fotografar mas, imaginam a quantidade de garrafas e caixas, certo?

Organizar um evento destes, para tantas pessoas e vindas de tantos países diferentes, é sem dúvida um desafio e dou os parabéns a todos os que estiveram envolvidos na sua organização. Aproveito para agradecer à Comissão Europeia pela oportunidade que me deram em testemunhar este evento e por todas as pessoas maravilhosas que pude conhecer.

As 23 Recomendações

Bloco 1: Cooperação na cadeia de valor alimentar: do prado para o prato
Recomendação 1 – Consumir local
Implementar apoios a pequenos produtores
Incentivar os retalhistas a comprarem os seus produtos aos produtores locais.
Proibição de cancelamentos de última hora e acompanhar o cumprimento da lei.
Consciencializar o consumidor para os produtos da época.  
Recomendação 2 – Apoio Público e privado à agricultura local
Apoio à procura de novos mercados
Criar projetos locais interessados no aproveitamento dos resíduos alimentares
Criar apoios para as associações que apoiam a redução do desperdício alimentar, como os bancos alimentares, por exemplo.
Recomendação 3 – Partilhar ao invés de desperdiçar
Implementar apoios a nível europeu a todos os bancos alimentares e projetos de redistribuição de restos alimentares para que estas não usem os seus donativos privados para instrumentos essenciais ao seu funcionamento: carros de recolha e distribuição, por exemplo.
Criar uma plataforma que ligue os retalhistas aos bancos alimentares para comunicação mais direta e eficiente.
Garantir que produtos doados ou vendidos a custo reduzido têm entre 3-5 dias até ao final da sua validade de forma a garantir que não ficam fora de validade durante o tempo de logística até à distribuição.
Incentivar os retalhistas que entreguem alimentos com validade superior.
Recomendação 4 – Partilha de dados e boas práticas entre os países da UE
Criar “guias” de boas práticas desenvolvido por investigadores da EU, formulado com base no cruzamento de dados sobre as boas práticas implementadas em cada país e que visem a redução do desperdício alimentar.  
Recomendação 5 – Recolha de dados ao longo de toda a cadeia alimentar
Recolher informação sobre como, onde, quem, porquê e quando ocorre o desperdício alimentar em toda a cadeia de abastecimento alimentar.
Normalizar formulários de notificação de resíduos.
Recomendação 6 – Participação dos cidadãos na política alimentar europeia
Criação de plataforma Europeia com representantes dos cidadãos dos diversos Estados-Membros, para troca de informação e de experiências
Recomendação 7 – Incentivar o consumo de produtos sazonais e locais
Informar claramente os consumidores para os produtos sazonais
Limitar a importação de alimentos de baixa qualidade e não sazonais.
Bloco 2:  Iniciativas empresariais do setor alimentar  
Recomendação 8 –  Criação de rede de intercâmbio de alimentos à escala da UE
Criação de plataforma que reúna os grandes distribuidores e que permita o intercâmbio de excedentes alimentares ou caducados a vários níveis e de forma horizontal: Nível 1: entre produtores, agricultores e distribuidores Nível 2: entre supermercados, bancos alimentares e cozinhas comunitárias
Recomendação 9 – Implementar leis para redistribuição de sobras de alimentos e/ou caducados
Implementar leis para distribuição de alimentos caducados
Recomendação 10 – Aplicar selo de boas práticas a restaurantes
Implementar selo de boas práticas para os restaurantes que reduzam o seu desperdício alimentar
Recomendação 11 – Pesar os resíduos orgânicos nos diversos estabelecimentos
Obrigatoriedade de pesar os resíduos orgânicos gerados com emissão de relatórios e comparações de períodos. Inicialmente nas escolas e hospitais, bairros ou distritos. Posteriormente a agregados familiares.
Recomendação 12 – Sistema obrigatório de comunicação de informações para a transparência, juntamente com sanções e recompensas
Implementar sistema de informação transparente com normas específicas ao longo de toda a cadeia de valor, incluindo produtores, fabricantes, retalhistas, etc.
Aplicar sanções em caso de violação das normas e de recompensas em caso de bom desempenho.
Recomendação 13 – Legislação sobre a destruição de produtos alimentares não vendidos
Garantir o uso dos alimentos não vendidos antes de serem considerado lixo
Na impossibilidade do consumo humano garantir a o possibilidade para consumo animal, biocombustível e compostagem.
Recomendação 14 – Transparência para visibilidade do desperdício e ação na prevenção
Elaborar relatórios acessíveis a todos sobre o desperdício gerado e o tratamento dado.
Recomendação 15 – Inovar nas embalagens e sua utilização
Incentivo ao desenvolvimento de embalagens inovadoras, mais reduzidas e sustentáveis que permitam aumentar a validade dos produtos  
Bloco 3:  Apoiar a mudança comportamental do consumidor
Recomendação 16 – Alargamento da definição de desperdício alimentar
Incluir os alimentos que não são colhidos
Recomendação 17 – Criar campanhas de sensibilização
Incluir nos meios de comunicação, em horário nobre, mais informação sobre a problemática do desperdício alimentar
Publicitar benefícios económicos e ambientais de não desperdiçar alimentos
Recomendação 18 – Sensibilização nutricional nas escolas
Inclusão de temas sobre alimentação sustentável nos programas curriculares das escolas primárias e secundárias
Recomendação 19 – Criar apoios financeiros para aplicações e plataformas que promovam a redução do desperdício alimentar
Fundos públicos que permitam as plataformas agir isentas de publicidades pagas, por exemplo.
Recomendação 20 – Dedicar 4 fins de semana por ano ao Desperdício Alimentar em todos os Estados-Membros
Coordenar campanhas de sensibilização para redução do desperdício alimentar
Recomendação 21 – Uma semana de sensibilização para o desperdício alimentar
Distribuição por parte da Comissão Europeia de conteúdo de sensibilização para todos os Estados-Membros, traduzido nas várias línguas (jogos, caixas de ferramentas, etc) para ser utilizado nas escolas.
Recomendação 22 – Fornecimento de informação para aproveitamento de produtos quase ou já fora de prazo
Utilizar QR Codes nos produtos que informem formas de os consumir fora do seu prazo de validade Desmistificar o consumo de alguns produtos já fora de prazo mas ainda bons para consumo
Recomendação 23 – Implementação de práticas normalizadas para a venda de produtos perto do fim do prazo de validade
Criação de zonas específicas nos supermercados para produtos a terminar a validade ou que já tenham terminado mas que ainda estejam bons para consumo
Colocação desses produtos em locais visíveis
Criar campanhas para melhorar a perceção dos consumidores face a este tipo de produtos