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Do Holoceno ao Antropoceno: Como a nossa evolução impactou o Planeta?

Sustentabilidade
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Muito antes de nós existirmos como espécie, o nosso planeta certificou-se que tinha as condições necessárias para que seres multicelulares, como nós, conseguissem prosperar. Em poucos anos, conseguimos destruir muitas das dádivas que ele nos oferece para podermos viver. 

Com a nossa evolução, começámos a olhar o mundo como se fosse só nosso. Como se fosse um parque de diversões, onde podemos fazer o que quisermos sem pensarmos nas consequências.  

Atualmente, muitas espécies estão em risco, incluindo nós. O que não percebemos é que o nosso ego nos pôs de parte do resto da natureza e com isso distanciou-nos do nosso mais verdadeiro ser. 

Muitos cientistas afirmam já estarmos a presenciar uma nova época geológica, o Antropoceno!  

Mas o que isto significa? Neste artigo, vamos esclarecer este conceito e desvendar alguns pontos chaves que fizeram com que a nossa espécie fosse a mais destruidora de todos os tempos.  

“Não nos podemos esconder por detrás da sensação de que somos apenas uma espécie pequena. Somos apenas uma em muitas.“, Ron Milo, pesquisador no Instituto Weizman de ciência em Israel.  

Escala de Tempo Geológico da Terra

Para podermos compreender o que é o Holoceno e o Antropoceno, é importante que primeiro falemos sobre a escala de tempo geológico da Terra. 

O nosso planeta tem aproximadamente 4,6 mil milhões de anos e já passou por diferentes eras, períodos e épocas. De certeza que já ouviram falar da Idade do Gelo ou da extinção dos dinossauros. Ambos foram momentos que alteraram a forma de viver de muitas espécies. 

De uma forma resumida, o tempo geológico é uma escala cronológica onde estão representados os anos do nosso planeta, desde a sua origem até aos dias atuais. 

Ao contrário do nosso calendário, esta escala não está organizada por um certo número de dias, mas sim, por acontecimentos marcantes, como por exemplo, aparecimento de vida, extinção em massa de espécies ou a sua evolução.  

Para que possam visualizar o tempo cronológico, deixamos aqui, uma tabela que explica muito bem como tem sido a evolução.  

Até há pouco tempo, os cientistas consideravam que a época onde nos encontrávamos era o Holoceno, contudo, devido a todas as alterações climáticas e mudanças no ambiente a nível de fauna e flora, afirmam que devemos passar para uma nova época denominada de Antropoceno. Explicamos melhor já de seguida. 

O que é o Holoceno?

Até há bem pouco tempo, estávamos na época denominada de Holoceno, que teve início há cerca de 11,5 mil anos e é caracterizada pelo desenvolvimento da humanidade, devido ao clima estável e ameno dessa época. Como seres humanos, somos muito dependentes do clima, prova disso, é que a nossa forma de viver, de comer e os nossos hábitos mudam consoante o mesmo. 

Passámos de nómadas a sedentários, começámos a domesticar animais e a dedicar-nos à pesca, à pecuária e à agricultura. Passado um período longo de tempo, deixámos de produzir bens de forma artesanal e as máquinas vieram mudar a forma como consumimos e vendemos produtos.  

Pusemos o nosso conforto acima do planeta e decidimos que podíamos usufruir de tudo o que este tem para nos dar sem consequências.  

Atualmente, temos vindo a ver que não é bem assim. Assistimos cada vez mais, a fenómenos naturais devidos às alterações climáticas, escassez de água, extinção de inúmeras espécies e poluição do ambiente. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, estimasse que em 2012 morreram cerca de 12 milhões de pessoas no mundo, devido às condições ambientais (poluição do ar, da água, alterações climáticas, solos contaminados, entre outros.) 

Por isso, se pensávamos que podíamos tirar proveito da natureza de forma inconsciente, estávamos muito enganados. Estivemos, sensivelmente, estes últimos 50 anos, só a envenenar o planeta e a nós próprios. 

Tendo tudo isto em consideração, muitos cientistas consideram que estamos a passar para uma nova época geológica. Lembram-se quando dissemos que o tempo geológico evolui consoante as coisas drásticas que vão acontecendo no nosso planeta? Pois bem, com tudo o que tem vindo a ser falado sobre as mudanças no nosso planeta, considera-se que estamos a testemunhar o nascimento de uma nova época, denominada de Antropoceno. 

Como surgiu o Antropoceno?

Segundo a UNESCO no Relatório denominado de Bem-Vindos ao Antropoceno realizado em 2018, este conceito não é uma coisa recente. Em 1980, o biólogo Eugene Stoermer achava que já estávamos a entrar numa nova época devido às alterações biofísicas que já eram visíveis na altura. Contudo, no ano de 2000 este conceito começou a tomar mais força com a ajuda do químico Paul Crutzen, vencedor do Prémio Nobel da química em 1995.  

E porquê Antropoceno? A própria origem do nome, explica muito bem a razão pela qual se pensa que já não estamos no Holoceno e sim no Antropoceno. Esta palavra deriva do grego anthropos, que significa humano, com a junção da palavra kainos que significa novo. Esta nova época surgiu devido às ações dos seres humanos e à sua evolução. 

De acordo com um artigo da Nature com o título Global human-made mass exceeds all living biomass”, este conceito começou sem dúvida a ganhar peso durante o século XX, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, que incentivou ao crescimento abismal da massa antropogénica, ou seja, o houve um aumento da quantidade de objetos sólidos produzidos pelos seres humanos. 

Sabiam que a massa antropogénica já ultrapassou a quantidade de biomassa global?

Como referido acima, e explicado de forma muito simples, a massa antropogénica corresponde a todos os objetos sólidos inanimados criados pelo Homem. Ao longo dos anos, foram inúmeros os objetos criados recorrendo a diversos materiais do ambiente natural e de forma a atender as necessidades de um sistema socioeconómico em crescimento. 

Para terem uma noção, a massa de tudo o que já foi construído pelos seres humanos (massa antropogénica), já ultrapassou a massa de todos os seres vivos (biomassa) e, aqui, nem está incluído o lixo que produzimos! 

Quando falamos de biomassa, referimo-nos a toda a matéria orgânica de origem vegetal e animal e é composta por cerca de 90% de plantas. Dá que pensar, não dá? 

Gráfico: “Global Human-Made Mass Exceeds All Living Biomass,” por Emily Elhacham et al., em Nature. Publicado online 9 de Dezembro, 2020

No gráfico acima, a linha verde mostra o peso total da biomassa enquanto as áreas coloridas correspondem à massa humana. Aqui, podemos ver claramente a evolução e o aumento da mesma. Contudo, é preciso dizer que os investigadores responsáveis por este estudo, não contabilizaram o desperdício, porque se assim o fosse, a massa antropogénica teria ultrapassado a biomassa logo em 2013! 

Conseguem imaginar o tanto que produzimos, para não deixar espaço para os seres vivos prosperarem? O mais frustrante é que nós, humanos, representamos apenas 0.01% da vida na Terra.  

Representamos 0.01% da vida na Terra, mas as nossas criações sem fim já ultrapassam a biomassa existente! 

E como é que podemos afirmar isso? 

De acordo com Our World in Data, é muito difícil saber percentagens concretas em relação à vida na Terra. Mesmo se contássemos o número de espécies não iríamos conseguir ter um número exato, porque pequenos organismos podem ter uma grande população, mas representam uma pequena percentagem de matéria orgânica. E por isso, a biomassa é medida através de toneladas de carbono, uma vez, que este é a chave para a construção da vida. 

Dito isto existem alguns pontos que devem ser destacados: 

  • As plantas, principalmente as árvores, representam mais de 82% da biomassa; 
  • Em segundo lugar, temos a vida daqueles seres que não conseguimos ver a olho nu: bactérias minúsculas que representam cerca de 13%; 
  • Em terceiro lugar, o reino animal que representa apenas 0,4%; 
  • E nós, seres humanos, somos apenas 0,01% da biomassa. Para igualarmos a biomassa da Terra precisaríamos de cerca de 70 mil milhões de habitantes (atualmente somos 7,9 mil milhões). 

Como é que chegámos a este ponto? 

Segundo o Historiador Dipesh Chakrabarty numa entrevista à UNESCO, os seres humanos são uma força geológica, isto porque, apesar do nosso aparecimento na Terra ter sido mais recente que de algumas espécies, em poucos anos conseguimos provocar imensas alterações no nosso planeta. 

Para que o planeta conseguisse ter as condições ideais para a nossa chegada e evolução (clima favorável e oxigénio a 21%), foram precisos quase 600 milhões de anos, e nós, em aproximadamente de 50 anos, estamos a conseguir destruir tudo o que o planeta prosperou para que a nossa existência, como a conhecemos, fosse possível. 

A nossa procura por tecnologia, o crescimento populacional e a globalização, fez com que as alterações que temos vindo a presenciar, ocorressem de forma muito rápida. Muitos historiadores afirmam que há medida que desenvolvemos a tecnologia, também nós, começamos a evoluir muito rápido, tão rápido que o nosso planeta não nos consegue acompanhar.  

“Enquanto os avanços tecnológicos modernos nos permitiram prosperar como espécie, podemos ter–nos catapultado para fora do cenário evolutivo darwiniano. Os seres humanos adquiriram o papel de uma força geológica, capazes de paralisar uma era glacial – e possivelmente ocasionar outra grande extinção da vida nos próximos 300 a 600 anos.” – Dipesh Chakrabarty,

O planeta e muitos dos seres que nele existem, conseguem adaptar-se a diversas condições e alterações, mas não é do dia para a noite, é um processo lento. Por exemplo, se tivéssemos desenvolvido a tecnologia de pesca em alto mar no ritmo em que as mudanças de evolução normalmente acontecem, os peixes teriam tido tempo para se reajustar e aprender a escapar às redes de arrasto. A nossa espécie conseguiu fugir ao cenário evolutivo de Darwin* e, por isso, o nosso impacto está a ser catastrófico. 

*Cenário evolutivo de Darwin aborda a evolução das espécies e como é que estas se adaptaram para poderem sobreviver. Um exemplo, muito simples de perceber, é através da evolução das girafas. As mesmas tiveram que se adaptar para conseguirem ter alimento e consequentemente reproduzirem-se e, por isso, os seus pescoços são tão altos. Desta forma, conseguem chegar às árvores mais altas e conseguirem alimento. Aqui está assente a Lei da Seleção Natural, que afirma, que o ser mais forte é aquele que se adapta às mudanças e não o mais inteligente. 

Vamos refletir? 

O nosso impacto no planeta é muito mais complexo do que imaginamos. Tudo remonta à evolução e desenvolvimento da nossa espécie. Esta nova época, só demonstra a capacidade de mudança que temos e, por isso, se conseguimos mudar negativamente o planeta em que vivemos, porque não usar a nossa tecnologia e capacidade de evoluir para o bem? 

Ainda temos um longo caminho a percorrer e só vamos realmente conseguir fazer a diferença quando pusermos o nosso ego de lado e aceitarmos que somos animais e uma pequena parte dos seres vivos que habitam a Terra.